Ps: Lembrei de você

*Estou tentando amar, e se você já tentou amar alguma vez na vida, vai entender plenamente porque preciso de quilos de chocolate, milhares de ligações de amigos, e carinhos, e curtidas, e tudo que puder manter em pé a minha auto estima, porque tentar amar… é pior talvez do que tudo nessa vida, só não é pior, que nunca amar. Porque tentar amar, ainda é melhor que não amar nunca. Estou tentando amar, e jamais pensei em como isso seria trabalhoso, e em como isso nos consome, e em quanto é difícil, é mais difícil às vezes se deixar amar, do que amar realmente.

Vai começar a passar na televisão o filme que ganhou o Oscar e deu o Oscar para um inglês… aquele filme que comentei com você, e que depois disso passou a ser nosso e não apenas meu, não lembro bem porque, só sei que toda vez que vejo esse filme me lembro de você. Lembro que foi um dos primeiros filmes que fui ao cinema e assisti sozinha, depois de anos sem fazer isso, naquele dia o transito estava caótico, e não queria dirigir, parei o carro na esquina da consolação em um estacionamento ao lado do pão de açúcar andei até a rua augusta como se estivesse numa verdadeira guerra, as pessoas, elas eram tantas por ali, e estavam na direção oposta, todas ou quase todas engravatadas, com saltos, bem vestidas, ou vestidas para trabalhar, e era por volta de umas seis horas da tarde.

Desci a augusta, e entrei em uma daquelas lojinhas de guloseimas, lembro de ter visto uma bebida e sentir vontade de comprar e beber sozinha, também era a primeira vez que tinha esse desejo, de beber novamente, mesmo que fosse sozinha. Mas não comprei, porque estava dirigindo. Comprei algum doce, não lembro qual, lembro de ter comprado doces, talvez balas, ou chocolate, cheguei no cinema, estava incrivelmente vazio, era um dia de semana, um horário de pico, e mesmo assim não tinha fila nenhuma até o caixa, e ainda não sabia que filme iria ver, tinha uma propaganda “O discurso do rei” e a imagem era aquelas em tamanho real dos atores, e o ator era o Mr. Darcy do diário de Bridgte Jones, perguntei ao caixa que filmes estavam começando naquele horário, e ele falou uns três, perguntei se ele indicava algum… ele indicou um. Então resolvi perguntar o horário em que iria passar o discurso do rei, ia levar ainda uns vinte minutos, e era do outro lado da rua. Atravessei a rua, foi a primeira vez que sentei num café sozinha, estava sem a carteirinha de estudante, mas a atendente me deu a meia, confiou na minha palavra, brinquei que poderia trazer a carteirinha outro dia para mostrar a ela, ela riu e disse que não precisava, não voltei para levar a carteirinha, fiquei ali, por vinte minutos, tomei um chocolate quente, detesto café. Mas seria bem cômodo tomar café nessas circunstancias, nem todo lugar serve chocolates quentes…

Subi para a sala, lembrei de ter visto um outro filme ali, tinha assistido um filme horrível ali, uma história que não mudou nada para mim, além de acrescentar mais falas as nossas conversas… Assisti do inicio ao fim, com um fôlego preso, aquele instante do suspense em que você quer que algo aconteça logo, para poder respirar em paz, não consegui até o final do filme. Apareceu o Winston Churchill representado por um careca, gordinho, e baixinho, e ele tinha algumas outras características, se não me engano mancava, mas era um ser peculiar, lembrei na primeira cena em que ele aparece, que você, um tempo antes tinha começado a me chamar assim, nunca entendi porque, mas quando vi na tela que ele era de fato baixinho, entendi a brincadeira, e sorri, sorri sozinha no cinema, sem nem ser uma comédia. Fiquei o filme inteiro lembrando de um filme que tinha visto quando era criança, “ Beetlejuice”. Fiquei muito impressionada na minha infância com esse filme, lembro apenas que ele tratava da morte, a morte era uma presença constante no filme, hoje sei que o diretor é o Tim Burton e que a atriz que me remeteu ao filme, é a mulher dele. Por algum motivo minha memoria associou isso a mulher do rei, mas fui pesquisar e descobri que essa atriz não fez Beetlejuice… ela deve ter atuado em alguma continuação ou algo do estilo, ou em qualquer outro filme do Tim Burton, já que a maioria deles apresenta a mesma estética. Que seja, na época, a primeira vez em que assisti esse filme, essa foi a analogia que fiz, e por algum motivo, não gostei da mulher do rei, porque para mim, ela remetia a um temor infantil, como o brinquedo assassino, ou o terror que alguns da minha geração tem de palhaços por conta de um filme de terror que foi lançado durante a nossa infância. Não subestime os medos de uma criança, eles a acompanham por toda a vida, alguns somos capazes de ultrapassar outros apenas esquecemos que existem, mas eles estão ali, e se algo os desperta, eles continuam a existir. Não acho que ninguém vença um medo, apenas aprendemos a melhor maneira de lidar com alguns deles.

Me perdi… como você diria, a tv está ligada, o celular toca com as mensagens, e bom… nem lembro mais o que queria dizer, apenas que lembrei de você, como sempre lembro de você, mas as vezes lembro mais. E hoje foi um dia de lembrar muito de você, porque estão anunciando na tv que vão passar o discurso do rei… e não assisti com você, como milhares de coisas que não fiz ao seu lado, mas dividi cada instante daquilo que vivia só com você, e isso te tornou tão presente na história da minha vida, sinto sua falta, sinto falta de dividir a minha história com você, mas entendo que sou uma mulher, e que bom… sem nenhum machismo enrustido, isso é muito diferente, intelectualmente você foi uma das pessoas que mais me fez bem nessa vida, outro dia sorri de lembrar de você dizendo “vê posso falar até do meu alfa romeu com você” não sei se entendo completamente o sentido dessa frase, tudo que sei, é que ainda estou entendendo tanto que vivo, e vivi. E que as vezes fico inerte, mas na maior parte do tempo procuro agir, e talvez isso tenha me levado a lugares que não imaginava, e isso me fez ver muito, situações que apreciei, e algumas nas quais fiquei apreensiva, só sei, que seja lá o que for que aconteça daqui pra frente, sempre serei grata a você, por ter estado presente na minha vida, obrigada.

continuo… depois do filme ;)