Sobre as festas cristãs

Essas foram algumas das perguntas que a sacerdotisa Viviane Trunkle nos trouxe hoje e algumas que me surgiram desse encontro:
Você sabe quantas, e quais são as festas cristãs que se comemoram dentro da comunidade de cristãos livres? E você sabe por quê, ou para quê, são feitas essas comemorações? Quais são as festas que você comemora ao longo do seu ano? O que as festas representam para você? Você consegue imaginar a sua vida sem festa? Qual a diferença de um ano em que há festas, e um ano que não há festas?

As festas estão inseridas na cultura humana, desde os primórdios… festejar, é humano. A festa, além de momentos de reunião, e pedidos, também são os momentos de agradecimento, culturas ancestrais se reuniam para agradecer pela colheita, para agradecer pelo alimento, para agradecer pela boa terra, para agradecer pela fartura, as festas cristãs são também nossa maneira de agradecer ao Cristo pela sua vinda, de agradecer pelo seu sacrifício, de agradecer por estar conosco nessa empreitada de nos tornarmos seres humanos. Constituirmos uma nova hierarquia. Que só existirá, caso nós sejamos capazes de carregar a tarefa de sermos seres humanos. O que nos torna humanos? E humanidade? Onde podemos nos encontrar e reunir como humanidade?

Por que será que a geração contemporânea, tem sede de festas como o carnaval, mas se vê vazia, quando falamos de celebrar o natal, e páscoa? O que esse sinal nos mostra? Será que esse esvaziamento das festividades, não aconteceu antes? E agora vemos a consequência dele?

Para você que tem mais de trinta anos, porque eu só posso falar pela minha geração de trinta e poucos, então vocês, de trinta ou mais, o que as festas cristãs representam para vocês?

Hoje eu ouvi uma fala linda, sobre o sentido da festa, e dos festejos, a festa é o momento de pausar a vida, e encontrar-se com Deus novamente. E fico na dúvida, eu não encontro com Deus todos os dias? Então, por que esse encontro durante a festa é especial? O que ele tem de relevante? Para que ele serve? Nos encontramos com Deus todos os dias, com certeza, mas na festa, encontramos com Deus no outro, aprendi recentemente que quando estou eu e tu, forma o nós, e o nós tem algo além do eu e do tu, ele carrega o entre o eu e o tu, e nesse lugar, nesse espaço, Cristo vive. “Onde um ou mais estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei.” Ele nos disse, o porque dos encontros, o para quê das festas. Fiquei pensando, que ele começou sua carreira, para falarmos em termos modernos, justamente numa festa, claro, bem antes disso… mas oficialmente, o primeiro momento em que Cristo se manifesta, publicamente, é numa festa, nas bodas de Canaa, ele diz a sua mãe, mulher a minha hora não chegou, e ela lhe diz, eles não tem vinho… e ele vai, e transforma a agua em vinho.

Assim como mais tarde fariam as comunidades que se lembram de Cristo, que se oferecem para estarem com Ele na sua missão na Terra. Ouvi hoje também algo que quero lembrar, que a dor e o sofrimento que vivemos aqui, é transubstanciado no momento dos festejos, é um lampejo da alegria que encontraremos um dia unidos novamente ao ser divino. Aqui precisamos de brechas, espaços para os encontros, pausas nas rotinas, que as vezes nos fazem esquecer, quem somos, onde estamos, e porque encarnamos… nós estamos aqui, numa missão, a missão de nos tornarmos seres humanos, de sermos livres, e em liberdade decidirmos quais sacrifícios faremos. Sacrificio virou quase um palavrão, mas seu sentido é de oferta, oferenda, é quase como dizer a Deus, você me deu a vida, e eu a ofereço a você novamente, mas não guardei seus talentos em baixo da Terra, os multipliquei por ai, para que seja de fato um sacrifício, e que ele possa ser aceito… há aqueles que serão aceitos, e aqueles que não, isso cabe a Deus decidir, a nós cabe a opção, de sacrificar ou não a Ele. Festejar para mim particularmente é um sacrifício, estar em lugares, com muitas pessoas, com muito barulho, muito movimento, excessos… me causa um pouco de cansaço para usar uma palavra que todos entendem. E também, me leva a esse lugar de êxtase e alegria, e contentamento. Fico feliz em ver outras pessoas se divertirem, e rirem, e conversarem, e ver a magia dos encontros. O encontro é uma mágica… mas pode ser também um milagre, se olharmos bem, as palavras, tem o mesmo sentido, é que uma é pagã, a outra é considerada cristã, mas existiam milagres mesmo antes de Cristo… se olharmos bem, Cristo estava aqui, antes desse momento que consideramos como a sua vinda, se olharmos bem… No principio era o verbo… e o verbo se fez carne. Antes de ser carne, ele já era verbo.

Como será que eram as festas cristãs, antes de Cristo se fazer carne?

Como vamos nos preparar para festejar? Como vamos nos preparar para festejar? Para quê queremos festejar? Qual o real motivo de cada festa para mim? Hoje a sacerdotisa Viviane nos deu uma dica, o caminho para vivificar uma festa, é olhar para os evangelhos, o que está descrito nele nesse período festivo? Quais imagens estão presentes nele? O que essas imagens movem dentro de mim? E ainda podemos olhar para as épocas do ano, e ver na natureza ao nosso redor, o que a natureza está nos dizendo? O que a natureza nos mostra? Além das festas, quais outros caminhos de religação com o plano espiritual nós temos?

Festejar, ganha cores, e sabores, e lembranças, e experiências muito diferentes, quando se sabe porque se festeja. Nas festas cristãs dentro da antroposofia, há 13 festas descritas. Algumas delas, eu só tomei contato recentemente, algumas delas, ainda são lugares que a minha alma está tateando. E há aquelas, que a minha familia celebrava, preenchida de muito sentido e significados, aqui em casa vigora um ditado, o melhor da festa é preparar a festa. O momento que a festa acontece, não é de fato o mais importante, o importante, é o movimento que antecede a festa, e se é feito um bom movimento, a festa é coroada com bênçãos e alegrias. O encontro existe, é sincero, verdadeiro, e amoroso, e não importa se o antes, o durante, foi penoso, aquele instante, é coroado de paz, a paz do encontro do eu e o tu, que cria o nós, em que o Cristo habita. Eu desejo festas cheias de sentido que por acaso parece com a palavra sentimento… deve ter um porque… sempre tem um porque… e se entendemos, chegamos no amago do porque, entendemos, que os dois discípulos caminhando para Emaús, estão caminhando em festa, a festa, não é um dia, um único momento, a festa é uma constante, quando o Cristo está presente.

E aqui para nós, cristãos do século XXI, vivendo um possível esvaziamento, precisamos lembrar… lembrar quem somos, antes, antes de sermos cristãos somos? Humanos, depois somos cristãos, depois seremos… e então, para seres humanos cristãos, para que queremos festejar? Queremos nos encontrar? Ou estamos reproduzindo algo que não sabemos porque é feito? Não adianta vestir a criança de caipirinha, ou comprar fantasia no carnaval, ou se vestir de papai Noel, ou pintar pegadas de coelho no chão, se você fizer isso por pragmatismo, talvez seja pior do que não fazê-lo, porque ai invés de plantar uma boa memória, planta-se em terra seca, aquela que cai na terra e não brota… é preciso estar consciente do porque se faz o que se faz, de para quê se comemora dessa ou daquela maneira, e não é preciso pensar nisso para a criança ou para o adulto, mas para todos, mais vale uma avó que se ajoelha e reza com propósito, do que uma que dá chocolate sem sabedoria. Talvez a criança goste mais de receber o chocolate no imediato, mas ela com certeza, será mais bem nutrida, pela imagem da avó que reza.

Se as festas estão vazias dentro de você, preencha-as, encontre o sentido em você, não para o outro, não para os seus, para você, e isso irradiará para todos. Eu comemoro 4 festas, como individuo, e com sentido. As 4 são preenchidas de sentido, as outras estou construindo… Adoraria comemorar 13… esses sentidos eu vou ter que construir, encontrar por mim mesma, terei de encontrar seus sentidos, e significados em mim. Dizem que nascemos sabendo tudo, e esquecemos para nos lembrarmos no caminho… Peço a Deus que me mostre, o sentido real, de cada festa, a abertura espiritual, de cada um desses momentos. Para que com sabedoria possa me ligar a eles. Desejo isso a você e os seus.

“Mãos que atuam e fazem o bem,
mãos que trabalham e não se detêm,
mãos amorosas que os fracos amparam,
mãos que rezam e sempre rezaram,
mãos que se elevam num gesto profundo,
é dessas mãos que precisa o mundo.”

Rudolf Steiner

Grata pelo comentário!